Virou Meme! Muito provavelmente você já ouviu esta frase, principalmente para definir um conceito que se espalha na internet. Intuitivamente, talvez você tenha uma vaga ideia do que isso significa, mas pode ser que você nunca tenha ido a fundo no conceito propriamente dito de Memética.
A Memética pretende então ser uma crítica à psicologia evolutiva, uma tentativa de introduzir um segundo replicador no algoritmo da evolução por seleção natural. O biólogo britânico evolucionista Richard Dawkins, na conclusão do best-seller “O Gene Egoísta”, escreveu que, depois de centenas de milhões de anos de domínio do gene como a única espécie de replicador natural, um segundo tipo de replicador não genético, cultural, teria surgido em meio a populações humanas e colonizado os cérebros humanos como um vírus, o vírus da mente. Compliquei?
Vamos tentar de volta. A palavra vem do grego mimeme, que significa imitação. Mas, como precisava ficar mais curta e parecida com gene, tendo uma relação com memória, virou meme. Assim como os genes se propagavam no pool gênico saltando de corpo em corpo via espermatozóides ou óvulos, os memes se propagam no pool memético saltando de cérebro em cérebro por um processo que, no sentido mais amplo, pode ser chamado de imitação.
Ou seja, uma ideia bem-sucedida se propaga, virando um bom meme e tendo um tempo de vida suficiente para se multiplicar um número infinito de vezes de cérebro em cérebro. Já uma ideia ruim, não vai muito longe, torna-se um meme fraco, não sobrevivendo por muito tempo. Tudo vai depender da qualidade do hospedeiro, que é a capacidade do indivíduo que recebe uma informação para transformá-la em meme. Os fofoqueiros costumam ser ótimos hospedeiros.
Existem muitas definições de grandes neurocientistas para meme, mas vamos simplificar. Meme é uma informação que muda um comportamento. Como assim? Por exemplo: eu falo para você que saias curtas estão na moda. Mas ninguém está usando saias curtas. Isto é apenas uma informação que vai para a sua mente. Agora, se todo mundo, a partir desta informação, passa a usar saias curtas, então virou um meme, porque esta informação foi responsável por mudar o comportamento das pessoas.
Informação por informação não é um meme. Você lê os jornais todos os dias e tem contato com centenas de notícias, de informações, e adquire alguns conhecimentos, mas poucos são os memes que você leva dali. De tão simples o conceito, ele acaba algumas vezes se tornando complicado. Vamos adiante.
Um meme é um replicador de informação que utiliza o espaço da nossa mente para replicar-se, como se fosse uma máquina de xerox com utilidades avançadas. Memes são como murmúrios, febre, epidemia, vírus, que vai se propagando, se imitando, se transmitindo, influenciando, competindo por uma parte da sua mente e por uma parte da mente de todas as outras pessoas, com o objetivo único de manter-se vivo pelo maior tempo possível.
Para o comportamento humano, os memes são aquilo que os genes são para o corpo. E Memética é o estudo do funcionamento dos memes: como eles interagem, como se multiplicam e evoluem. Trata-se de uma nova ciência que já vem fazendo algum barulho em todo o mundo.
A evolução dos memes ocorre porque nossa mente é eficiente em copiar e inovar ideias, comportamentos, canções, formas, estruturas, entre outras coisas.
Eles são muito mais complexos que simples ideias. São ideias que contaminam como vírus e mudam comportamentos, podendo resultar na construção de novas culturas, linguagens e religiões. Muitos dos memes acabam sendo criados em benefício próprio e são auto contaminantes, podendo ser prejudiciais, por isso é preciso tratá-los com responsabilidade.
Os memes são verdadeiros replicantes dotados de características como fecundidade (capacidade de se reproduzir o mais rápido possível), fidelidade (capacidade de se reproduzir sem deformação – pelo menos os meta-memes, que são inesquecíveis) e longevidade (quanto mais tempo ele viver, melhor).
Todo meme adquirido fica registrado no hipocampo (parte do nosso cérebro relacionada a nossa memória) e vai servir de base para tudo o que você fizer. Portanto, é preciso entender que o inconsciente é um depósito memético e que toda ideia que você tem não é sua, porque em algum lugar algum fragmento daquilo já foi transformado em meme de alguma forma.
Por isso, variáveis como ambiente, estrutura familiar, crenças, cultura geral, país em que você vive, por exemplo, vão influenciar o seu comportamento sobre eles.
Memética e liderança
Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com liderança. E agora eu faço a pergunta: O que você acha que a liderança tradicional e a Memética poderiam fazer juntas se unissem suas forças? Isso tudo depende da responsabilidade do indivíduo que estiver à frente, no comando, na engenharia de todo este processo. Pode ser perigoso? Sim. Pode ser uma solução para as dores tóxicas? Sim, desde que tenhamos discernimento entre o bom, o mau, o certo, o errado, e entendamos bem o que significa cada uma dessas coisas, para que saibamos o melhor momento para aplicar cada uma delas com maior assertividade.
Os verdadeiros manipuladores de toxinas, administradores de dores emocionais precisam ser rápidos o bastante para neutralizar as consequências de memes perigosos dentro das organizações, bem como seus efeitos devastadores para as pessoas que ali estão, a fim de que isso não entre no código genético das empresas.
Portanto, nossos cérebros são máquinas de reprodução de ideias. Os genes estão para os corpos, assim como os memes estão para os cérebros humanos. Os genes se encontram em uma molécula química, o DNA. Os memes, as ideias, não se encontram em molécula biológica nenhuma, uma vez que não existem moléculas culturais. A replicação do DNA tende a excluir os erros de cópia que porventura ocorram durante o processo de replicação da informação genética. Já as ideias tendem a ser, ao contrário, pouco resistentes a quaisquer acréscimos.
O médico Stephen Ross discute a hipótese de que algumas ou muitas doenças possam ser causadas por ideias, que os memes possam estar em cena no caso de certas manifestações mal-adaptativas. Por exemplo, ele argumenta que certas desordens alimentares podem ser contagiosas não por serem mediadas por qualquer toxina clássica ou micro-organismo, mas, como no caso da bulimia ou anorexia nervosa, transmitidas pela informação de que outras pessoas são afetadas por essas doenças, que estão dentro das empresas todos os dias.
Fibromialgias, síndromes de fadiga crônica, síndrome de intestino irritável e alcoolismo, assim como doenças psicogênicas de massa ou histeria epidêmica, podem ser interpretadas em certos casos como memes psicossomáticos. Nesse contexto, os memes são analisados como agentes infecciosos que, como patógenos clássicos, possuem fatores de virolência, afetando hospedeiros particularmente vulneráveis.
Qualquer meme que faz uma pessoa se sentir notável, especial ou importante, ocupa uma posição vantajosa na evolução Memética. Em contrapartida, memes associados ao perigo são aqueles aos quais ficamos mais atentos. Ao longo do desenvolvimento das tradições orais, nosso cérebro foi programado para intensificar os perigos e atribuir-lhes importância crucial. E líderes tóxicos conhecem bem os poderes de seus memes e fazem bom uso deles para manipular seus liderados. São os manipuladores de toxinas do mal, inconsequentes, e que, na maioria das vezes, constroem exo-memes tóxicos estrategicamente e de forma consciente.
Quando morremos, há duas coisas que podemos deixar para trás: nossos memes e nossos genes. Com a passagem de cada geração, a contribuição de seus genes fica dividida pela metade. E, apesar dos genes serem imortais, a coleção de genes que constitui cada um de nós irá desintegrar-se com o tempo. Mas, se você tiver uma boa ideia, inventar algo totalmente novo ou diferente, como fez Copérnico, Sócrates, entre outros, seus memes sobrevirão aos seus genes assustadoramente. Portanto, deixe um legado, faça algo que ninguém tenha feito ainda. Ou, simplesmente use a Memética de uma forma positiva para motivar suas equipes ou pessoas individualmente. Crie um jeito novo de fazer liderança no mundo. Este é o nosso papel. Mudar a vida das pessoas. E por que não garantir a sobrevivência dos nossos memes também?
Alessandra Assad é Master of Sciense in Business Administration in Neuromarketing na instituição de ensino Florida Christian University, é jornalista especializada em management, com MBA em Direção Estratégica e Mestrado em Neuroliderança. em todo o Brasil e professora no Master of Sciense in Business Administration in Neuromarketing na Florida Christian University. Palestrante internacional e CEO da ASSIM ASSAD – Desenvolvimento Humano. Autora dos livros Atreva-se a Mudar!, Leve o Coração para o Trabalho e A Arte da Guerra para Gestão de Equipes e Liderança Tóxica.