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O que podemos aprender com o short squeeze na bolsa americana?

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09 de fevereiro de 2021

O assunto mais falado no mercado de capitais nos Estados Unidos foi o short squeeze que aconteceu com ações da rede varejista de jogos eletrônicos GameStop, o que causou perdas bilionárias para fundos e investidores em Wall Street.

E tudo isso aconteceu graças a um elemento muito forte na bolsa americana: a presença dos investidores pessoa física, que confrontaram as apostas feitas pelos grandes hedge funds e causaram um rebuliço generalizado que envolveu intervenção das corretoras, pedidos de maior regulamentação na bolsa americana e até acusações de manipulação de mercado.

Como aconteceu o short squeeze na bolsa americana?

O short squeeze, como o nome sugere, é um fenômeno que ocorre com ações que contam com muitos shorts (vendidas). Ou seja, são papeis cuja projeção do mercado é de queda, portanto fundos de investimentos alugam e vendem essas ações a um preço mais elevado, conseguindo lucrar ao recomprar as ações quando sua cotação diminuir.

Mas e se o valor dessa ação subir com muita força? 

Aí acontece o short squeeze. Para reduzir as perdas com a alta do papel, os fundos de investimento começam a comprar essa mesma ação, o que acaba por também aumentar o preço do papel graças ao aumento na demanda. E foi assim que muitos hedge funds perderam bilhões no mercado de capitais – e muitos investidores menores ficaram milionários.

A volatilidade das ações da GameStop foi o principal assunto de Janeiro em Wall Street

Por que a GameStop?

A GameStop (GME) é uma empresa varejista do ramo de jogos eletrônicos. Sua situação no mercado é parecida com o que aconteceu com a Blockbuster, a famosa rede de locadoras de filmes que perdeu espaço para a Netflix e outras plataformas de streaming.

A companhia, que prosperou no início do século com o comércio de consoles e games em cartuchos e CDs, perdeu espaço por motivos semelhantes aos da Blockbuster: seus produtos migraram para a mídia virtual, e as mídias físicas perderam espaço para os downloads sem a necessidade de discos.

Por conta disso, muitos gestores de hedge funds fizeram shorts com as ações da GameStop, entendendo que a tendência era de queda para o papel.

Foi aí que uma grande quantidade de investidores menores, oriundos de um fórum do Reddit chamado Wall Street Bets, percebeu que a ação possuía mais posições vendidas do que compradas, abrindo espaço para grandes lucros em um short squeeze para quem apostar contra os grandes fundos de investimentos.

Os preços saltaram de US$ 19,26 no final de dezembro para US$ 380 no fim de janeiro, e graças ao short squeeze na bolsa americana, a perda para os fundos que apostaram contra a GameStop foi imensa. Muitos hedge funds, inclusive, passaram a pedir ajuda para suprir seu déficit e começaram a demandar por mais regulações na NYSE.

Corretoras muito utilizadas pelas pessoas físicas, como a Robinhood, passaram a proibir que seus usuários negociassem ações da GameStop e de outros papéis que passavam por movimentos semelhantes – o que por sua vez, levantou muitas dúvidas de que as corretoras estavam defendendo os interesses dos hedge funds em detrimento dos investidores menores.

Houve manipulação de mercado?

Essa foi a grande reclamação dos fundos bilionários ao ver a mobilização dos pequenos investidores lhes causando prejuízos. Na opinião do professor Ricardo Hammoud, professor do curso de MBA em Gestão Empresarial na STRONG, o que aconteceu não pode ser classificado como manipulação de mercado, tendo em vista que foi uma atitude individualmente tomada por milhares de investidores. “Eles fizeram uma aposta contrária aos hedge funds, isso pode acontecer dos dois lados. Manipulação de mercado é quando tem informações sigilosas, o insider trading”, explica.

“Com certeza isso deve acontecer mais vezes, e também pode ocorrer por aqui”, explica o professor, apontando o crescimento no número de investidores pessoa física no Brasil. Ele defende a atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que têm ajudado a defender os investidores menores.

Na B3, os investidores até tentaram ensaiar um movimento parecido com Wall Street, elevando as ações da IRB, mas o impacto foi bem menor e os valores da ação da resseguradora logo voltaram a cair, sem antes virarem alvo da própria CVM e de investigação do Ministério Público.

E as empresas?

A volatilidade pode oferecer grandes lucros no curto prazo (ou grandes prejuízos), mas no geral, o valor de uma ação tende a representar a real situação de uma empresa. As grandes posições de short dos fundos podem ao mesmo tempo atrapalharem como também facilitarem a recuperação desses papeis desvalorizados.

A grande lição que podemos aprender com o short squeeze na bolsa americana é de que os investidores precisam se preocupar principalmente com os fundamentos de uma empresa. “Esses derivativos deveriam ser apenas mecanismos de proteção. Para o pequeno investidor, tentar fazer esses movimentos de curto prazo contra grandes fundos é muito arriscado, e os grandes fundos na maioria das vezes vão ganhar. ”

 

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