Por Eduardo Becker
Quem souber responder a esta pergunta ou é mentiroso ou é charlatão, eu diria. O problema com esta pergunta é exatamente a palavra “exatamente” (com o perdão da redundância). O que nós, economistas e analistas de mercado, podemos predizer é apenas a direção da trajetória de preço da moeda. Infelizmente, para aqueles que gostariam de realizar aquela tão sonhada viagem para o exterior ainda este ano a notícia não é das mais animadoras.
Há três fatores que apontam para uma alta da moeda norte-americana no curto e médio prazos. O primeiro fator é externo. Os EUA podem ter postergado o aumento da taxa básica de juros por enquanto, mas esse aumento é inevitável. Basta a confirmação de recuperação robusta da economia americana, que o FED não terá dúvidas de aumentar esta variável (os EUA já são o país que mais cresce dentre os países desenvolvidos). Outro ponto que corrobora este raciocínio é o aumento significativo no volume mundial de dólares desde 2008. Podemos medir este aumento através da evolução da base monetária (vide gráfico abaixo), que é a soma do dinheiro em circulação e as reservas do banco central.
Como podemos observar, houve uma expansão desproporcional deste indicador a partir de 2008 para poder fazer frente à crise financeira global. Ou seja, tomando como parâmetro os índices históricos, a base está muito elevada e em algum momento deverá retornar aos níveis habituais. Isto significa menos dólares no mercado e um câmbio mais desvalorizado por aqui.
O segundo fator é político. A crise que está instalada no Brasil desde a posse da presidente Dilma afugenta investimentos e capitais do país, forçando o câmbio a se desvalorizar ainda mais. O problema, neste caso, é que no atual cenário não há garantias de que o governo consiga governar por mais 45 meses. A regra é clara: quanto mais incerteza e instabilidade política, maior a pressão sobre a alta da moeda estrangeira.
Por fim, o último fator determinante é puramente econômico. Se para os turistas de plantão, importadores e empresas endividadas em dólar a vida está cada vez mais difícil, em contrapartida, para o setor exportador, este dólar “caro” está ótimo! O Brasil atravessa uma crise em sua balança de transações correntes, a indústria sofre há anos por falta de competitividade e a agropecuária vive surfando a onda de volatilidade externa de preços de commodities. Caso o dólar permaneça acima dos R$3,00, podemos compensar estes setores (dar um alento?) a seus respectivos problemas estruturais. Somado a isto, o Banco Central do Brasil já dá sinais de que sua munição está se esgotando para conter a alta do dólar. Portanto, em suma, dólar acima de R$3,00 é excelente para a economia brasileira na atual conjuntura!
Logo, tanto fatores internos (econômico e político) quanto externos, apontam para um dólar mais caro daqui em diante. Não arriscaria dizer quão mais caro, mas acredito que teremos que conviver com esta nova (velha) realidade a partir de agora.
Eduardo Becker é mestre em Economia pela Unesp e economista pela USP. Atualmente é coordenador dos cursos de Administração de Empresas e Ciências Econômicas da Strong Escola Superior de Administração e Gestão (Strong ESAGS), unidades Baixada Santista e Santo André, e professor da rede FGV-Management. Sua experiência profissional inclui o cargo de economista do Ministério Público do Estado de São Paulo, gestão de microempresas e mais de 10 anos de docência em cursos de Administração, Economia e Contabilidade.