1940 – Presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo no Brasil por meio de uma lei que passou a vigorar no dia 1º de maio de 1940.
O objetivo era possibilitar que a manutenção do poder de compra dos trabalhadores continuasse, no mínimo, próximo ao ano anterior. Como assim? A cada aumento, busca-se cobrir a inflação e acrescentar algo a mais.
Apesar dos reajustes melhorarem ao longo das décadas seguintes e o poder de compra da população aumentar, foi apenas a partir de 1994, com o Plano Real e o fim da hiperinflação, que o salário mínimo voltou a se valorizar.
Ganhos Reais de Renda (acima da inflação) só são possíveis dentro de uma economia minimamente estável, sob o ponto de vista monetário. Calcula-se que de 1994 a 2014 o valor do salário mínimo aumentou 142% acima da inflação.
Como isso foi possível? A partir de 2006, centrais sindicais e o governo acordaram a regra que tem regido o reajuste do salário mínimo: o cálculo leva em conta a inflação ano anterior ( + ) o resultado do produto Interno Bruto (PIB) do ano retrasado.
E se o crescimento do PIB for negativo? Neste caso, o valor considerado para esse indicador na fórmula é zero. O salário mínimo não pode ser reduzido. Esse cálculo passou a ser adotado em 2008 e virou lei em 2011.
Em 2015, a ex-presidente Dilma decidiu prorrogar essa política de valorização até 2019, com possibilidade de prorrogação até 2023. Ficaram de fora desta política de valorização os aposentados e pensionistas que recebem acima de 1 salário mínimo. Para estes a correção é somente o reajuste da inflação. Oura observação importante é que, mesmo havendo uma Lei Complementar 103, de 2000, que deu aos estados autonomia para decidir o valor do salário mínimo dentro de seus limites territoriais, os aposentados recebem o valor federal, não o regional.
Em 2019 o Congresso terá que aprovar uma nova fórmula de correção, ou prorrogar a mesma até 2023. Será uma disputa política que impactará diretamente nos custos da Previdência.
O salário mínimo de 2018 está fixado no valor de R$954,00.
Este valor é suficiente para manter as condições do trabalhador? Por quê aparece na televisão um valor de salário mínimo em torno de R$3.000,00 como sendo o ’correto’ a se receber?
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo estabelecido pelo governo não é o suficiente para sustentar uma família brasileira.
A discordância se dá pelo método de cálculo escolhido pelo Dieese. Diferente do governo, que fornece o aumento do salário mínimo com base na variação do Produto Interno Bruto somada à inflação, o departamento acredita que a melhor forma de chegar ao valor de salário ideal para suprir todas as necessidades de uma família no Brasil é ter como base o preço da cesta básica mais cara do País. (Para ver os itens desta cesta consulte o site do DIEESE)
Esta diferença metodológica gera uma distorção gigantesca. Para o DIEESE, em junho de 2018, o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 3.804,06. O valor é 3,99 vezes o salário mínimo em vigor, de R$ 954.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística):
- Metade da população brasileira vive com MENOS de 1 salário mínimo;
- 1% da população de trabalhadores brasileiros com maior poder aquisitivo ganhava 36,3 vezes mais do que os 50% que ganham os menores salários;
- Na fatia dos mais abonados, formada por apenas 889 mil pessoas, a renda do trabalho média mensal era de R$ 27.085.
Como equacionar a distorção existente entre o salário vigente e o ideal? Como isto impactaria no setor produtivo? Como isto impactaria na inflação? Como isto impactaria na previdência e seguridade social?
Um debate sério e adulto é o que a sociedade brasileira precisa.
Carla Beni é professora da STRONG FGV, Mestra em História Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Possui MBA em Finanças Empresariais pela FGV/Ohio University College of Business. Especialista em Economia e Didática no Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado/FAAP. Foi Professora de Economia da Pós-Graduação da Universidade Mackenzie, nos cursos de Engenharia Econômica, Banking, Controladoria e Gerência Nacional de Vendas, nas cidades de São Paulo, Recife, Brasília e Campinas. Também ministrou aulas na Graduação das Faculdades de Economia e Administração São Luis, em São Paulo. Professora de Economia nos cursos da FGV Management desde 2005.