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E a treinanda tinha razão

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21 de fevereiro de 2019

Abro esse artigo citando Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que certa vez proferiu a seguinte frase “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

Certa vez estava ministrando um treinamento que abordava o tema Gestão de Desempenho para líderes de uma grande empresa. Ao iniciar o programa, como de praxe, perguntei aos treinandos quais as expectativas alimentavam para esse encontro que durariam dois dias. Imediatamente ouvi ressoar do canto direito da sala “ eu não tenho nenhuma expectativa, afinal, tudo que vocês veem nos ensinar ou não é aplicável, ou não nos serve, quando alinhamos com a realidade, mas me comportarei e deixarei você fazer seu trabalho”.

Naquele momento senti uma tijolada em meu peito, respirei fundo…. muito fundo e argumentei “ agradeço sua sinceridade, isso faz toda a diferença em um treinamento, a verdadeira participação”. Falei isso da boca para fora, porque na verdade tamanha sinceridade incomodou-me muito. Meu incomodo não foi com a pessoa, mas sim, o porquê aquele comentário provocou-me tamanha inquietude.

Pois bem, foi à primeira vez, em mais de vinte anos de sala, que me deparei com tal ocorrência, daí me lembrei da citação de Anna Lins, aquela que mencionei no primeiro parágrafo “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

Nesse momento percebi que, parcialmente a treinanda estava certa, afinal, somente aprendemos aquilo que queremos aprender, aquilo que nos faz sentido aprender e não o que a empresa acredita que devemos saber.

Há uma grande distancia  entre o que os colaboradores precisam aprender e o que as empresas acham que eles precisam aprender. Nesse aspecto falamos das competências, ou seja, será que as competências necessárias ao cumprimento de metas são as mesmas para todos?  Qual o levantamento de competências é apurado pelas empresas, objetivando extrair do seu colaborador o melhor?

Tratamos os colaboradores como únicos, como se todos tivessem as mesmas necessidades, mesmos objetivos pessoais, como se fossem uma única massa. As empresas que souberem entender seus colaboradores sairão à frente em quase todos os aspectos.

Muito se fala em programas customizados para as empresas, mas pouco, ou nada se fala em customizar o programa para pessoas, para o atendimento das reais necessidades dos colaboradores. As empresas oferecem muito do mesmo, daí a falta de fomentação pós-treinamento.

Acreditam que por terem gasto tempo e dinheiro estão com a consciência em paz, que fizeram sua parte no desenvolvimento das pessoas, lamento, mas é ledo engano, não é dessa forma que se desenvolvem pessoas.

Muito se fala em talentos, retenção e talentos, e outros jargões, mas, com sinceridade, o que fazemos para retê-los?  Bom esse tema, apesar de ter tudo a ver com esse artigo, merece outro artigo específico, tal sua complexidade.

Quando refleti sobre tudo isso entendi que, a treinanda tinha razão. Será que a proposta daquele treinamento, comparativamente a outros que ela já havia participado faria algum sentido? Ela entrou desacreditando não no evento ou em mim, mas na eficácia de aplicabilidade, afinal, ninguém perguntou a ela quais eram suas necessidades de desenvolvimento, ou o que ela poderia aprimorar para contribuir com os melhores resultados corporativos?

Confesso que aprendi muito com essa historia real que vivi. Felizmente tive a oportunidade de aprender aquilo que ensino, customizar para as pessoas, desenvolver as necessidades internas e não as corporativas.

A propósito, para quem não conhece Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, sugiro que invistam um tempo para conhecê-la, e podem procurar simplesmente por Cora Coralina.

Prof. Marcelo Rivani é Mestre em Educação, Psicólogo e Prof. na Fundação Getúlio Vargas nos cursos de MBA


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